Programa expositivo

Arqueia mas não quebraSP/2023

(Curadoria) Ariana Nuala, Germano Dushá, Rafael RG

(Artistas) Abdias Nascimento, Alfredo Volpi, Aline Motta, Allan da Silva, Anna Maria Maiolino, Anti Ribeiro, Cildo Meireles, Edson Barrus, Flávio de Carvalho, Hélio Melo, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Ivens Machado, Jayme Figura, Jefferson Santiago, Jonas Van, José Resende, Juno B, Keila Sankofa, kulumym-açu, Labō, Laryssa Machada, Loren Minzú, Lygia Pape, Mari Ra, Marina Woisky, Mira Schendel, Miriam Inez da Silva, Noara Quintana, Raymundo Colares, Rubem Valentim, Sallisa Rosa, Siwaju Lima, Victor Arruda, Zimar

Em diversas histórias da cultura oral maranhense, São Benedito teria sido um homem negro escravizado que, numa noite de lua cheia, adentra a mata, corta um tronco de árvore, volta à senzala e, com a madeira extraída, cria um tambor e ensina outras pessoas negras escravizadas a construir e tocar tambores.

Essa narrativa é um dos “contos que se contam” sobre a criação do Tambor de Crioula no estado do Maranhão. O uso da madeira como matéria-prima para construir tambores e outros instrumentos de percussão persiste até hoje em diferentes comunidades do Brasil. "Arquear sem quebrar" refere-se a um tipo de manejo exaustivo da matéria — uma das tecnologias ancestrais utilizadas na fabricação de instrumentos percussivos. Mestres e mestras manipulam diferentes tipos de madeira, azumbrando suas fibras, assim como o vento, que busca a flexibilidade na rigidez, reencontrando pulsões a partir de uma coreografia que beira a fronteira de sua destruição.

Numa dobra conceitual que avança nos séculos, a imagem da matéria arqueando encontra eco na obra Para ser curvada com os olhos (1970), de Cildo Meireles. O trabalho apresenta uma provocação: duas barras de ferro — uma reta e outra curva — são apresentadas dentro de uma caixa com os dizeres: "duas barras de ferro iguais e curvas". O objeto foi pensado para ser exaustivamente exposto, de modo que sua contínua aparição pública poderia dar testemunho da força física do olhar, que, afinal, poderia cumprir literalmente a sugestão do título da obra.

Pensar essa manipulação da matéria, física e imaginativa, pode suscitar reflexões sobre as possibilidades de transformação do corpo — que estica, enverga, flexiona —, mas também sobre noções ampliadas que envolvem dinâmicas de transmutações, hibridismos e conexões insólitas mediante certas infusões de energia. Sob a força das práticas de tensionamento da matéria em seu limite existencial, estabeleceu-se aqui o encontro de trabalhos que abeiram fronteiras — sejam elas materiais, fisiológicas, mentais ou sociais — e que abraçam o risco na busca pela reinvenção e pela produção de novas forças vitais.

Entre formas que invocam a magia, movimentos que incorporam a capacidade elástica de diversos materiais, naturezas orgânicas e sintéticas em transmutação, e suas paisagens, feras e afetos possíveis, cabe agora a relação corpo a corpo com o que está aqui reunido, criando dobras e arcos com o olhar, tensionando os sentidos, ampliando ou reduzindo as distâncias temporais e espaciais. Por certo, a partir desses exercícios, cada trabalho exposto pode se transformar na medida das intenções daqueles que os observarem. Do mesmo modo, aqueles que os transformarem, fatalmente sairão “arqueados”.

(1) São Benedito, conhecido como “o Negro”, “o Mouro” e “o Africano”, nasceu na Sicília em março de 1524. Passou a ser venerado como santo em Portugal a partir do século XVI, ao lado de Santa Ifigênia, Nossa Senhora do Rosário, Santo Antônio de Categeró e Santo Elesbão, formando as chamadas “devoções negras”, processo sincrético resultante da voracidade lusa no tráfico escravocrata do Atlântico. No Brasil, São Benedito tem devotos de norte a sul desde o século XVIII, e seu culto é especialmente presente no Maranhão.

(2) O Tambor de Crioula é uma expressão cultural de matriz afro-brasileira que envolve percussão de tambores, entoação de cantos e movimentos de dança circulares. É realizado em uma diversidade de espaços e contextos, de modo mais espontâneo ou ligado a efemérides e datas festivas, sobretudo em louvor a São Benedito.

Vídeo da exposição

https://www.youtube.com/watch?v=2d5Zys_-LL8

Programa público

https://www.youtube.com/watch?v=wtEomoQVoOA
https://www.youtube.com/watch?v=wYjKleL1pjY

Ficha técnica

RealizaçãoAlmeida & Dale
Sócios-proprietáriosAntonio Almeida, Carlos Dale Jr.
DiretoraErica Schmatz
ProduçãoAna Chun, Marina Bigardi
AcervoCarolina Tatani, Carolline Akemy Miyashita, Sophia Maria Quirino Sawaya Donadelli, Malu Villas Bôas, Morgana Viana
ComunicaçãoMarcelo Ozório
Concepção e curadoriaGermano Dushá, Rafael RG
Curadora convidadaAriana Nuala
Gestão/métodos do programa e traduçõesFabricia Ramos
Expografia e mobiliárioAlberto Rheingantz
Design gráficoRaul Luna
Assistência design gráficoChristian Proença
Assistência geralCammila Ferreira
Desenho de luzCharly Ho
Marcenaria e serralheriaCarlos Ferraboli
Preparação de textoSandra Brazil
Documentação audiovisualLeticia Rheingantz
Documentação fotográficaSergio Guerini
ComunicaçãoMarcelo Ozório
Impressão GráficaIpsis Gráfica e Editora
AgradecimentosAdemar Marinho, Francisco José Bueno de Aguiar, Paulo Darzé Galeria, Rolf Gustavo Roberto Baumgart, Romero Pimenta, Vanda Klabin
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